14 de julho de 2009

Separação de Pais (cont.)


«Perante a separação de pais (...) é normal verificarem-se expressões claras de alteração do humor, com maior vulnerabilidade emocional traduzida em choro fácil, irritabilidade, isolamento, quebra do rendimento escolar. Ou alterações do comportamento como instabilidade, tal como são possíveis modificações do padrão do sono ou alimentares, como insónia ou perda de apetite. Mas já é patológico (doentio) que, passado algum tempo, a criança se tenha organizado preferencialmente na dependência de alguns sintomas, com nítida paragem, regressão (voltar para trás) ou desvio do seu desenvolvimento (...)

É enorme o número de casos em que a disputa parental se mantém para lá da separação, criando-se situações de efeito muito traumático para crianças e adolescentes. São frequentes os episódios em que ouvimos a mãe a mais não fazer que apresentar o rol de queixas do pai. Depois, vem o pai, e repete-se a situação. Os pedopsiquiatras não tomam, preferencialmente, posição por nenhuma das partes, pois sabem bem que a criança ou o adolescente necessita dos dois, ou de uma imagem interna forte e coesa dos dois. Sem isso, as dificuldades aumentarão. As excepções são quando existem factores comprovados de inibição do exercício da função parental (...)

Por isso, para evitar situações negativas (...) convém lembrar alguns pressupostos para a diminuição do sofrimento dos filhos.
- é sempre desejável que se minimizem as consequências de uma separação que recaiam sobre os filhos, nomeadamente com os habituais sentimentos de culpa, perda ou abandono. Num exemplo típico, evitar que o pai nunca mais apareça na vida da criança, deixando-a literalmente orfã de pai vivo;
- a importância de os adultos respeitarem perante os filhos o direito de estes manterem uma imagem de pai e de mãe afectivamente forte, estável e contínua, com livre acesso a ambos, em contactos regulares combinados de forma harmónica e pouco rígida, embora previsível.

(...) convém às crianças ter uma base à qual se referenciem (...) saber que pode contar com o pai e com a mãe regularmente, com previsibilidade e continuidade: não há mesmo pior que o pai que promete aparecer, deixa a criança na expectativa, e depois não vem. Ou, estando três anos sem dar notícias, aparece de repente a querer sair com o filho diariamente. As crianças não são objectos, para serem tratadas ao sabor das variações do estados mentais dos pais; (...)»

Pedro Strecht, "Interiores"

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