22 de julho de 2009

A família e a sexualidade

«As mudanças influenciaram também as famílias enquanto espaços de socialização sexual.
(...)
[estudo] A liberalização das normas sociais relativas à sexualidade das últimas décadas, nomeadamente em relação à sexualidade dos jovens, traduziu-se - pelo menos em práticas educativas parentais que apoiem efectivamente os jovens nas suas dúvidas ou problemas concretos relativos à sexualidade ou às suas vivências sexuais.
(...)
Às dificuldades e resistências dos progenitores, correspondem também dificuldades e resistências dos próprios adolescentes que, muitas vezes, evitam abordar estes temas por receio de críticas ou outro tipo de intrusões na sua intimidade.
(...)
Os contextos familiares são muito importantes na formação da identidade sexual, na formação das atitudes, e na formação dos traços estruturais da personalidade que irão sendo investidos em todas as áreas do crescimento e das relações estabelecidas.»

Duarte Vilar

Sentir...

Cupido e Psyche
«A sexualidade não só mediatiza todo o nosso ser, assim como é "mediada" pelo que somos. As diferentes dimensões do ser humano influenciam-se mutuamente (...) A sexualidade não pode entender-se por si mesma, separada de tudo. As capacidades e processos biológicos, intelectuais, linguísticos e afectivos mediatizam a identidade, o papel, os desejos, sentimentos, fantasias e comportamentos sexuais.»

Tradução livre "Para comprender la sexualidad"

«Sendo socialmente modelada, a sexualidade humana e as suas regras morais foram sendo construídas e modeladas nas transformações sociais mais globais, nas mudanças que se foram produzindo nas mentalidades e nas instituições com ela mais relacionadas, nomeadamente a conjugal, idade e o campo das relações familiares" (Vilar, 2003).

É a esta aprendizagem específica, ou socialização, que se faz de forma intencional sobre esta "área" de questões, que se costuma designar por educação sexual.

Tendo em conta as ligações da sexualidade às outras dimensões da identidade pessoal e das relações interpessoais e a sua mediatização social, a educação sexual integra todo um conjunto de componentes de outras áreas de aprendizagem, tais como os valores e os afectos, ou as questões de género, a estrutura da personalidade, as competências do indivíduo para lidarem com a sua intimidade.

A socialização dos indivíduos na área da sexualidade é, pois, um processo em que intervêm, assumindo ou não essa intervenção, todos os actores que nos modelam a nossa identidade em todas as outras áreas da nossa vida. Falo dos contextos mais informais como o familiar - progenitores e fratria - e os pares ou amigos. Refiro-me aos grandes modeladores sociais como os mass media e refiro-me finalmente aos meios de educação formal e nestes, em primeiro lugar, a escola.»

Duarte Vilar, sociólogo

21 de julho de 2009

A Educação sexual faz sentido no actual contexto de mudança?

«(...) A sexualidade é um campo de expressão da totalidade humana - corpo, emoções, desejos, fantasias, significações e relacionamentos.

A sexualidade deixou de ser um terreno privilegiado de controlo social, (...) para ser sobretudo um terreno de construção individual onde a diversidade parece imperar.
(...)
"A sexualidade aparece mais como uma experiência pessoal, fundamental na construção do sujeito, no centro de um domínio que se desenvolveu e ganhou um peso considerável ao longo dos séculos, a esfera da intimidade e da afectividade. O repertório sexual alargou-se, as normas e trajectórias da vida sexual diversificaram-se, os saberes e as representações da sexualidade multiplicaram-se."

Não que tenha desaparecido o controlo social sobre a sexualidade mas, na nossa sociedade, ele opera-se sobretudo na delimitação dos comportamentos extremos que são considerados desviantes ou criminosos, como por exemplo a pedofilia e não nos comportamentos individuais. Fora estes problemas específicos, a sexualidade é hoje socialmente considerada uma área fundamentalmente de expressão íntima dos indivíduos e dos casais, devendo ser preservada, por isso, dos ditames morais do meio social envolvente.

Este conjunto de mudanças que descrevemos reflectiram-se naturalmente em todos os actores e processos e condições de socialização. (...)»

Duarte Vilar, Director Executivo da APF

14 de julho de 2009

Separação de Pais (cont.)


«Perante a separação de pais (...) é normal verificarem-se expressões claras de alteração do humor, com maior vulnerabilidade emocional traduzida em choro fácil, irritabilidade, isolamento, quebra do rendimento escolar. Ou alterações do comportamento como instabilidade, tal como são possíveis modificações do padrão do sono ou alimentares, como insónia ou perda de apetite. Mas já é patológico (doentio) que, passado algum tempo, a criança se tenha organizado preferencialmente na dependência de alguns sintomas, com nítida paragem, regressão (voltar para trás) ou desvio do seu desenvolvimento (...)

É enorme o número de casos em que a disputa parental se mantém para lá da separação, criando-se situações de efeito muito traumático para crianças e adolescentes. São frequentes os episódios em que ouvimos a mãe a mais não fazer que apresentar o rol de queixas do pai. Depois, vem o pai, e repete-se a situação. Os pedopsiquiatras não tomam, preferencialmente, posição por nenhuma das partes, pois sabem bem que a criança ou o adolescente necessita dos dois, ou de uma imagem interna forte e coesa dos dois. Sem isso, as dificuldades aumentarão. As excepções são quando existem factores comprovados de inibição do exercício da função parental (...)

Por isso, para evitar situações negativas (...) convém lembrar alguns pressupostos para a diminuição do sofrimento dos filhos.
- é sempre desejável que se minimizem as consequências de uma separação que recaiam sobre os filhos, nomeadamente com os habituais sentimentos de culpa, perda ou abandono. Num exemplo típico, evitar que o pai nunca mais apareça na vida da criança, deixando-a literalmente orfã de pai vivo;
- a importância de os adultos respeitarem perante os filhos o direito de estes manterem uma imagem de pai e de mãe afectivamente forte, estável e contínua, com livre acesso a ambos, em contactos regulares combinados de forma harmónica e pouco rígida, embora previsível.

(...) convém às crianças ter uma base à qual se referenciem (...) saber que pode contar com o pai e com a mãe regularmente, com previsibilidade e continuidade: não há mesmo pior que o pai que promete aparecer, deixa a criança na expectativa, e depois não vem. Ou, estando três anos sem dar notícias, aparece de repente a querer sair com o filho diariamente. As crianças não são objectos, para serem tratadas ao sabor das variações do estados mentais dos pais; (...)»

Pedro Strecht, "Interiores"

13 de julho de 2009

Separação de pais


«Do ponto de vista psíquico, não há separações de pais que sejam de final feliz. Todas acarretam algum grau de sofrimento psíquico. Contudo, existem muitas coisas que os adultos podem fazer para minorar as dificuldades dos seus filhos perante estas circunstâncias.

(...) o número de divórcios continua a crescer anualmente (...) É uma nova realidade sobre a qual temos de pensar, pois não há dúvida de que a família continua a ser a grande base face à qual a criança se referencia.

Mas apesar de "toda a crise encerrar em si mesma um potencial evolutivo" (ou seja, podemos crescer, evoluir, com cada dificuldade/obstáculo), como escrevia Donald Winnicott, nunca é de mais fazer da parentalidade uma tarefa responsável, que, uma vez assumida, deve implicar compromissos sérios pelas crianças, já que são elas as mais desprotegidas e vulneráveis face às reorganizações de vida dos pais.
(...)»

Pedro Strecht, "Interiores"

1 de julho de 2009

Violência (cont.)


« (...) as principais causas parecem ser psicológicas. Geralmente, tanto as vítimas como os agressores manifestam baixa auto-estima e têm um fraco poder de influência nas relações interpessoais com os pares. Em geral, as vítimas não têm amigos, apresentam uma aparência física mais frágil do que a dos seus pares e são muito protegidas pelos pais (principalmente pelas mães). Normalmente, os pais dos agressores e das vítimas não estão ao corrente da situação e isto torna esta situação mais problemática.

(...)

O intimidador aprende a maltratar, a sentir-se bem com esse papel que reforça dissocialmente a sua conduta, levando-o a um percurso de delinquência. Utiliza a violência para conseguir o seu objectivo e corre o risco de se converter na sua própria vítima. Com essa atitude de ser o protagonista, ter poder, prestígio, destacar-se, é capaz de tudo, sem parar para pensar no que faz. O predomínio da acção sobre a razão leva-o a comportar-se de maneira impulsiva. Necessita da popularidade que não consegue de forma natural.

Quando o bully é confrontado com os seus actos, a sua reacção é negar a realidade, convence-se a si mesmo e aos outros de que não fez nada pelo qual deva ser sancionado. Os culpados são sempre os outros. A escola, a vítima (que merece o que lhe aconteceu por ser bufo, ou por qualquer outro motivo), justificam o seu comportamento; mente e apresenta-se ele próprio como vítima evitando as acusações e a responsabilidade e, se necessário, o direito a defender-se.»

Javier Urra, "O pequeno Ditador"

Violência


A violência não deve ser parte das nossas vidas, por isso, uma vez mais, vou deixar aqui a opinião de especialistas acerca do assunto. Convém que, cada um, pese se, de uma maneira ou de outra, está a fazer tudo o que é possível para combater esta problemática.

«(...)bullying, é o assédio psicológico, moral e/ou físico, "que se define como uma conduta agressiva e persistente no tempo, exercida por um indivíduo ou grupo, que provocam baixa auto-estima, isolamento e exclusão social da vítima. Este tipo de conduta evidencia-se através de insultos, ameaças, intimidação psicológica e agressões físicas, com tendência para aumentar em intensidade e frequência de agressões." (Afonso & Cerviño, 2006)
(...)
Existe intenção de prejudicar e para isso é utilizada a ameaça, a chacota, o desprestígio, o insulto, a rejeição..., bate-se, intimida-se, assedia-se, humilha-se, exclui-se, incomoda-se, isola-se, chantageia-se...e chega-se a ignorar, a pôr a ridículo..., a abusar sexualmente, enfim, de uma maneira ou de outra tiraniza-se.
(...)
As formas mais frequentes de agressão são as verbais, as más relações e a agressão indirecta; as menos habituais, o isolamento e a agressão física.
(...)
Os rapazes estão muito mais envolvidos do que as raparigas nos casos de agressão activa. E também um pouco mais como vítimas. Poderíamos dizer então que o bullying, tanto na sua forma activa como passiva, é um comportamento mais frequente nos rapazes do que nas raparigas.

Está demonstrado que os rapazes costumam engrandecer-se pelos ataques físicos (socos, espancamentos, armas brancas, violência sexual) e que pavoneiam das suas "façanhas", enquanto que as raparigas são mais sibilinas, mais subtis, e inclinam-se mais para desqualificar as suas companheiras e para as isolar, camuflando assim os seus assédios. (...)»

Javier Urra, "O pequeno Ditador"