15 de fevereiro de 2010

A prisão do belo

"Vivemos aparentemente na era do respeito pelos direitos humanos, mas, por desconhecermos o teatro da nossa mente, não nos apercebermos de que nunca esses direitos foram tão amplamente violados nas sociedades democráticas. Estou claramente a referir-me a uma terrível ditadura que oprime e destrói a auto-estima do ser humano: a ditadura da beleza.
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O padrão inatingível de beleza extensamente difundido na televisão, nas revistas, no cinema, nos desfiles e na publicidade penetrou no insconciente colectivo das pessoas e aprisionou-as no único lugar em que não é admissível ser-se prisioneiro: dentro de si próprias.
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Esta ditadura assassina a auto-estima, asfixia o prazer de viver, produz uma guerra com o espelho e gera uma auto-rejeição profunda.
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Até as crianças e os adolescentes são vítimas desta ditadura. Ao terem vergonha da sua imagem e ao sentirem-se angustiados, consomem cada vez mais produtos em busca de fagulhas superficiais de prazer. A cada segundo destrói-se a infância de uma criança no mundo e assassinam-se os sonhos de uma adolescente.
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Qualquer imposição de um padrão de beleza estereotipado, que tenha como meta alicerçar a auto-estima e o prazer através da auto-imagem, produz um desastre no inconsciente, ficando o indivíduo gravemente doente em termos emocionais. A auto-estima é um estado de espírito, um oásis que deve ser procurado no território da emoção. Cada mulher, homem, adolescente e criança deveria ter um caso de amor consigo mesmo, um romance com a própria vida, visto que todos possuem uma beleza física e psíquica particular e única.

Esta frase não é um jargão literário pré-fabricado, mas uma necessidade psiquiátrica e psicológica vital." Augusto Cury


Liga-se tanto à nossa parte externa que nos esquecemos que somos quem somos não pela nossa cara ser capa de revista ou ser comum, mas sim pelos nossos actos. Coloquei uma flor silvestre para ilustrar esta mensagem porque, no dia-a-dia, habituámo-nos a pensar a beleza de forma formatada, cheia de preconceitos, uma beleza estilo "ramo de rosas" em vez de entendermos e apreciarmos os vários tipos de beleza. As várias nuances que assume um rosto, um gesto, um sorriso, uma careta...

A nossa beleza não é especialmente importante, faz-nos sentir bem olhar para o espelho e gostar do que vemos, mas devíamos gostar sempre de nós, independentemente do nosso aspecto físico. A cor dos nossos olhos, o formato do nosso nariz, a cor do nosso cabelo...dizem o quê sobre nós? Na verdade muito pouco. Quem é significativo para nós fica marcado na nossa vida, não por ser aparentemente bonito ou feio, mas sim porque nos acompanhou durante a nossa vida, porque dedicou tempo da sua vida para cativar-nos, para ajudar-nos, para nos confortar quando precisávamos, para rir às gargalhadas quando nos aconteceu algo caricato, entre tantas e tantas outras situações deliciosas e complicadas que fazem parte da nossa vida.

A beleza vem de dentro, não é um cliché, é a verdade. A beleza está na nossa maneira de encarar o mundo. Não está na roupa que vestimos, se é de marca ou não, nem na nossa magreza ou gordura, nem na nossa cara. Alguém torna-se belo ou feio consoante a sua maneira de ser, consoante o papel que tem nas nossas vidas, os afectos que desperta em nós.

O aspecto físico depende de uma lotaria genética, não depende de nós, os nossos comportamentos e como vivemos a nossa vida sim. Somos donos e senhores da nossa vida, cabe-nos tornar-nos as melhores pessoas que conseguirmos ser. É um projecto sem fim e devia ser dedicado a causas maiores do que ser bonito ou feio.

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