"Os elos mais importantes em todo o processo de crescimento emocional: os pais. É em casa, na família, que tudo começa. São os pais que primeiro podem e devem proporcionar aos filhos relações emocionais seguras, estáveis, (...)bons e maus momentos, ajudando que a leitura emocional do mundo que os rodeia seja a mais adequada.
Esta é a base para que eles possam crescer emocionalmente saudáveis e, assim, terem um bom nível de confiança em si e nos outros. Quanto mais conseguirem organizar e expressar as suas emoções de forma adequada, menos possibilidade têm de adoecer psiquicamente (e, portanto, física e socialmente). E depois o ciclo de vida fecha-se, para logo se reabrir: a capacidade de cada geração para exercer a sua função parental depende da forma como foi parentalizada. [ou seja, os filhos de hoje, são os pais de amanhã] E aqueles cujas necessidades emocionais não foram satisfeitas não serão facilmente capazes de amar e valorizar a vida interior dos outros, mesmo que sejam seus filhos.
Nos dias de hoje, vários aspectos familiares e sociais característicos das sociedades evoluídas tornaram mais difícil a capacidade dos adultos de escutar, receber e transformar com sentido as expressões do mundo emocional das crianças e dos adolescentes. Frequentemente, ocupados e sem tempo, mergulhados mais na informação que no conhecimento, alguns pais perderam disponibilidade para reflectir sobre si próprios e os outros, mesmo que lhe queiram muito. Por isso tantos não compreendem o significado de muitos factos da vida dos seus filhos, acabando por ignorá-los ou simplesmente controlá-los de forma comportamental. Assim, o seu potencial de relação afectiva nem sempre é utilizado; ficam recursos por explorar e deposita-se na mão de outros muito daquilo que os próprios poderiam desenvolver.
Não há pais perfeitos, porque todos somos apenas pessoas, e isso implica ter coisas boas e outras más, na procura constante de um equilíbrio que por vezes não é fácil atingir. (...) A própria função parental também se ganha, também cresce e se modela à medida que a vida nos vai ensinando. Por isso se diz que a relação entre pais e filhos é recíproca, poque uns mudam com os outros. E esse é um dos aspectos mais fascinantes do ciclo de vida: a possibilidade de continuamente nos descobrirmos através do que os outros revelam de nós. Claro que grande parte dessa tarefa é intuitiva e tem a ver com a nossa própria experiência enquanto filhos e com a forma como os nossos pais nos educaram. A melhor maneira de intuir o futuro é através daquilo que o passado nos ensinou. "
Pedro Strecht, Interiores